06/11/2009

O APELO DA SELVA: Uma redacção muito bem esgalhada

MIGRAÇÕES NO REINO ANIMAL
Existem no reino animal espécies migratórias de todos os grandes grupos, das baleias aos patos, dos gnus às borboletas e aos salmões e tartarugas. Em todos estes casos, a migração ocorre por resposta a necessidades muito precisas da espécie: desovar, evitar o frio ou o calor, evitar a escassez de recursos alimentares, ou regressar ao ponto preciso onde deve realizar-se a reprodução, seja por motivos ambientais, como no caso do Abatroz-de-alto-mar, seja por motivos evolutivos, como é o caso da Tartaruga-do-Pacífico. Algumas migrações são regulares, repetindo-se todos os anos em resposta a relógios biológicos, sinalizações hormonais ou factores ambientais, e outras são irregulares, respondendo a factores que só ocorrem ocasionalmente. Uma boa ilustração de migração regular por resposta a factor hormonal é o das andorinhas que, mesmo que estejam numa gaiola em condições ambientais e de recursos alimentares perfeitos e imutáveis, começam a bater contra as grades e a manifestar uma enorme ansiedade quando chega a altura de partir. Um exemplo de migração regular regulada por factores ambientais é o das cegonhas do Alentejo, que deixaram de migrar para o Norte de África no Inverno quando o clima começou a aquecer e as suas condições de vida em Portugal foram artificialmente melhoradas pelo homem. Por último, indique-se um exemplo perfeito de migração irregular desencadeada por um factor ocasional: aquilo a que se chama a “migração suicida” dos lemingues.
Os lemingues são pequenos roedores do Árctico, sensivelmente do tamanho de um hamster. Regra geral, não migram. Mas se, numa determinada Primavera, as condições ambientais (clima ameno, abundância de recursos alimentares, escassez de predadores, etc) fizerem explodir em flecha o número dos contingentes populacionais, tornando a sobrevivência da população naquele local a todos os títulos insustentável, começam a afastar-se em massa do ponto de origem. Ora, como, regra geral, os seus habitats são zonas de fiordes ou línguas de tundra enfiadas por dentro de lagunas ou estreitos oceânicos, o resultado lógico é que acabam ou por despenhar-se das alturas ou afogar-se, morrendo aos milhares. É a sua forma de exercer controlo populacional. Claro que um roedor não tem consciência e livre arbítrio, e, por conseguinte, não se “suicida” –– mas esta imagem é de tal forma impressionante que ficou profundamente gravada na imaginação humana, presa a este nome de gíria antropocêntrico.
Para que as migrações animais se mantenham, com a sua importância crucial para a salvaguarda da harmonia do planeta, é necessário que a humanidade tenha extremos de cuidado com as suas actividades e a forma como interfere com a pulsação do Planeta. Actividades que começamos por considerar completamente inocentes surtem efeitos desastrosos sobre populações enormes, com uma cascata quase infindável de efeitos colaterais nocivos sobre a pirâmide de outros organismos de, de uma forma ou de outra, lhes estavam associados em cadeia. Vejamos, apenas, dois exemplos muito simples.
Os gnus das savanas do Sul de África têm rotas migratórias muito longas, extremamente complexas, que cobrem um território vastíssimo e condicionam uma cadeia complexa de plantas, simbiontes, presas e predadores. Há cerca de trinta anos, começaram a abrir-se estradas de asfalto nos territórios de migração dos gnus. As migrações ficaram imediatamente perturbadas, com consequências desastrosas para toda a cadeia que lhes estava associada: como não conheciam o asfalto, os gnus chegavam à beira dessas estradas e, pura e simplesmente, paravam. Perante o absoluto desconhecido, pura e simplesmente ficavam onde estavam, incapazes de prosseguir o seu caminho. Milhões de gnus morreram e várias áreas conheceram erosões e desertificações sem precedentes por causa deste pormenor tão simples.
A maioria das baleias migra para se juntar nas suas áreas de reprodução, e fá-lo mantendo contacto populacional por ultra-sons que as conduzem em massa até ao lugar certo. O problema é que, a partir da II Guerra Mundial, o fundo do mar foi ficando mais e mais cheio de cabos de radar, sonares de submarinos, ondas sonoras de toda a espécie de engenhos humanos, e as baleias deixaram de conseguir ouvir-se umas às outras no meio da cacofonia que se instalou nos fundos oceânicos. Hoje em dia, com numerosas espécies de grandes baleias e cachalotes ameaçados de extinção, estes animais não conseguem encontrar as suas rotas, perdem-se, dão à praia nos locais mais inesperados do Planeta –– e, inevitavelmente, não se reproduzem. Nem sequer sabemos se ainda conseguiremos chegar a salvar a baleia azul, o maior mamífero do mundo.
Claro que há muita coisa que podemos de fazer. Os acordos de Kioto, que visam reduzir a quantidade de emissões tóxicas e reverter o processo de aquecimento global, permitirá que toda a fauna migratória reencontre as suas antigas condições climatéricas e os níveis oceânicos que mantinham os seus mecanismos ancestrais a funcionar, e isso já seria uma grande ajuda. Estão em curso negociações de abolição de fronteiras entre o Zimbawe, a Africa do Sul e Moçambique na zona em que os seus parques naturais (Kruegger, Gurongosa e Kol’Abe)se fundem, para restaurar sem asfalto quase todo o território dos gnus e revitalizar a savana; e isso devolveria a África uma boa parte da sua antiga pujança natural. Há muito mais pequenos passos destes que podemos dar, mas precisamos que os grandes gigantes poluentes como a China, a Rússia e os Estados Unidos sejam os primeiros a querer __mesmo__liderar o processo.

1 comentário:

  1. EU PERGUNTEI UMA COISA E VEIO OUTRA TOTALMENTE DIFERENTE SACO !!! AFF !! RIDICULO

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