28/10/2010

LÁ FORA: "A Imagem na Ciência e na Arte"

A Fundação Calouste Gulbenkian e o Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa, no âmbito do projecto FCT «A Imagem na Ciência e na Arte», realizam o ciclo de conferências Image in Science and Art.
 Este projecto precede o Colóquio Internacional Image in Science and Art, a realizar nos dias 17, 18 e 19 de Fevereiro de 2011 na Fundação Calouste Gulbenkian.
 
Assim, já no próximo dia 17 de Novembro, pelas 18h00, irá ter lugar no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian a conferência ‘Taking it on Trust’ in Images of Nature, proferida por Martin Kemp.



PRÓXIMAS CONFERÊNCIAS


15 de Dezembro de 2010
18h00
The Problem of a Picture of an Atom
Christopher Toumey

19 de Janeiro de 2011
18h00
Visiting Time: The Renegotiation of the Time through Time-based Art
Boris Groys

2 de Fevereiro de 2011
18h00
Functional Images of the Brain: Beauty, Bounty, and Beyond
Judy Illes

INFORMAÇÕES
Projecto «A Imagem na Ciência e na Arte»

INFORMAÇÕES
Estabelecimentos de ensino interessados em participar:
Serviço de Ciência
Fundação Calouste Gulbenkian
Av. de Berna 45A – 1067-001 LSBOA
T. 217 823 525

25/10/2010

MAGAZINE: Mais notícias sobre as lesmas-do-mar fotossintéticas

A propósito dos textos que escrevi recentemente sobre as lesmas-do-mar que realizam fotossíntese, informo que saiu mais uma notícia, desta vez no jornal Público, sobre o trabalho desenvolvido por investigadores portugueses e coordenado pelo Instituto Português de Malacologia (IPM).
Saliento a explicação do investigador Gonçalo Calado acerca deste trabalho. O biólogo explica que a novidade não passa tanto pelo facto de um animal realizar fotossíntese, mas pelo modo como o faz. Em textos anteriores referi que as lesmas-do-mar "roubam" os cloroplastos (cleptoplastia) às algas das quais se alimentam, usando-os posteriormente em seu benefício, obtendo energia através da luz, o que é vantajoso em condições em que o alimento é pouco abundante. Mas os cloroplastos só são funcionais porque estes moluscos já possuem no seu núcleo genes para coordenar estes organelos. Os genes em questão, terão sido passados da alga para o molusco, ao longo do processo evolutivo.

Para mais informações consultar a notícia: http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1462604

19/10/2010

O APELO DA SELVA: Os Deslumbrados

DEUS DÁ-NOS AS NOZES, MAS NÃO É ELE QUEM AS PARTE


Como os órgãos sexuais controlam as migrações



A história dos salmões do Pacífico e do Atlântico impressiona muita gente: depois de vários anos passados no oceano, e quando chega a altura da reprodução, os salmões reconhecem sem hesitações o rio ou a ribeira de onde brotaram e sobem-na até ao cume das montanhas, onde está a nascente, incansavelmente em saltos atléticos contra a corrente, até atingirem a água fria onde anos antes eles próprios vieram ao mundo. Agora os machos voltam a copular com as fêmeas, voltam a nascer hordas de peixinhos minúsculos e a geração dos pais fica com eles apenas o tempo estritamente necessário até que os jovens saibam nadar e alimentar-se. Depois, todos juntos, recomeçam a descer o rio, rumo ao mar onde se tornarão adultos.



A desova das grandes tartarugas também é motivo de emoção para muitos: aparecem de vez quando, nas praias e rochas das costas do Pacífico e do Índico, sem que se lhes perceba qualquer preocupação na vida – a não ser, evidentemente, a transmissão de genes à progenia, bem como a garantia de que esta vai realmente existir. Para isso, uma vez por ano, assim que entra o primeiro dia do período fértil, chegam a nadar mais de três mil quilómetros para atingirem as ilhotas mais remotas, no meio do mar, onde elas próprias nasceram. Depois da cópula, fazem um buraco na areia tão fundo quanto possível, depositam aí todos os embriões, cobrem-nos outra vez para que ninguém os veja, e vão-se embora rapidamente – e esta parte é muito importante, pois as praias das ilhas, mesmo das mais remotas, não são, de todo, tão inócuas como as nascentes dos rios no cume das montanhas.



Estes dois exemplos da vida animal, tanto o do salmão como o da tartaruga, têm em comum um aspecto fundamental no desenvolvimento: a necessidade de regressar ao ponto de origem para recomeçar o ciclo da espécie. Mas o que é que controla este itinerário? Ainda não se sabe. No entanto, sabe-se que, se retirarmos quer aos salmões quer às tartarugas as suas gónadas (os orgãos sexuais, que são ou os testículos ou os ovários) , eles esquecem completamente a aventura da reprodução e ficam nas calmas a aboborar nos oceanos. Engordam muito, como é natural, e os pescadores e empresários servem-se deste truque para tirarem mais carne de cada animal, num processo que retira a estes animais todo o fascínio característico ao comportamento milenar da sua espécie.

O APELO DA SELVA: Danadas para a Brincadeira

AS Orchis, ESSAS MALUCAS




A destruição da selva amazónica leva ao desaparecimento de milhares de variedades de orquídeas por ano, algumas das quais não chegaram sequer a ser catalogadas. Porém, mesmo com este rol impressionante de extinções, esta flor ultrapassa largamente as cerca de vinte mil espécies conhecidas. E vivem em toda a parte: no restolho português, depois dos fogos; nas neves eternas; nas florestas tórridas. Quando é difícil alcançar a luz, tornam-se epífitas, que é como quem diz que vivem com as raízes penduradas nos ramos de outras árvores. Isto significa, entre muitas outras coisas, que se a floresta tiver sete estratos diferentes dependentes da luz, as orquídeas podem ser de sete tipos diferentes. Os benefícios de viver com as raízes penduradas são evidentes: há um menor investimento energético, uma vez que a construção de “alicerces” não é necessária; o acesso a praticamente todo e qualquer habitat é livre; e não há nenhum dispêndio de esforços para conseguir a vital exposição à luz solar. “E acesso à água?”, perguntar-se-ão (e muito bem). Tranquilo. A revestir as raízes pendentes, têm células altamente especializadas cuja função é fazer com que aquele tecido funcione como uma esponja quando chove, dispensando assim o enraizamento na terra, uma vez que a água passa a entrar na raiz directamente do céu. Caso haja uma seca perigosa, esta “esponja” dá lugar a uma parede estanque, que não deixa nem uma gotinha miserável escapar-se para o exterior.

Estas meninas servem-se dos fungos com a mesma habilidade com que se servem das árvores. A semente de uma orquídea é o que de mais simples e reduzido pode haver no reino vegetal, um mero embrião com meia dúzia de células muito pouco diferenciadas. Exactamente como acontece nos espermatozóides, as orquídeas fabricam estas sementes aos milhares para que duas ou três germinem. E é um fungo, que infecta a semente, que permite a sobrevivência desta, funcionando como uma ponte entre a flor e os nutrientes do solo, numa simbiose tão bem esgalhada que, no seu termo, quando a flor já está adulta e deixa de precisar de agentes infectantes para sobreviver, estes refilam. É na maturidade que a orquídea desenvolve aqueles dois grandes tubérculos redondos que dão o nome à família: orchis é o termo grego para testículo, daí que se tenham frequentemente atribuído às orquídeas misteriosos dons afrodisíacos.

Resta referir a exploração que as orquídeas fazem do trabalho dos insectos. Todas as orquídeas são hermofroditas, com ambos os sexos na mesma flor. No entanto, conscientes que estão dos perigos da consanguinidade, precisam da ajuda dos insectos para trocar pólens de vários tipos; e, tal como muitíssimas outras flores, fazem-se bonitas para que estes insectos as procurem e visitem. Nisto, são tão ardentes quanto despudoradas: coloridas, fantasiosas, desenvolveram até uma pétala especial , o labelo, pintalgada ou riscada, que, além de se ver à distância, funciona para o insecto como uma verdadeira pista de aterragem, com todos os sinais de navegação devidamente colocados. Sinais visuais, claro, resistentes ao nevoeiro e à miopia.

E agora, prestem atenção a isto: quando queremos perceber qual a posição relativa que cada espécie ocupa no quadro da evolução, desenhamos, em computador, os chamados “arbustos tridimensionais”. Nos animais, como toda gente sabe, no centro do arbusto encontramo-nos nós, o Homo sapiens. Ora, nas plantas, quem é que ocupará o lugar correspondente ao do Homo Sapiens? A Orchis sp, então quem é que havia de ser?

FACTOIDES: Sei Quem Sabe

Uma escola do Secundário organiza todos os anos questionários que envia a pessoas ligadas à área científica que os alunos estão a estudar. Aprendem-se imensos factoides. Reparem bem na série que me saiu a mim:

1 – O que é um gene?

Um gene é um segmento de DNA, devidamente enroscado ao longo do seu segmento específico no braço do devido cromossoma durante a divisão celular, que codifica a organização no citoplasma da proteína ou conjunto de proteínas a que dá origem – e, assim fazendo, codifica para o aparecimento das suas características especiais.

Estas características, passadas ao acaso de geração em geração, vão de coisas tão simples e patuscas como a cor dos olhos, as sardas, ou os caracóis no cabelo, a coisas tão complexas e dolorosas como o nanismo, a fibrose multicística, ou o cancro da mama.



2 – O que é o Projecto Genoma Humano?

O HUGO (HUman GenOme Project) é um projecto de investigação que começa a dar os primeiros passos do final da década de 80 do século XX, e que representa o investimento mais caro em Biologia que alguma vez se conheceu à escala mundial. Trata-se de montar uma técnica que nos permita decifrar, uma por uma, todas as sequências de genes que compõem o genoma humano, podendo depois esta técnica ser também aplicada noutros animais. O estudo concluiu-se já no século XXI. Ficámos a saber várias coisas interessantes. Por exemplo, agora sabe-se que, do ponto de vista biológico e científico, não há mesmo qualquer espécie de diferença entre as várias raças do género humano. Também tivemos que engolir o facto de agora sabermos que, geneticamente, não somos assim tão diferentes das moscas e dos vermes como isso.



3 – Qual é a precisão de um teste de ADN?

Absoluta.



4 – A partir de que amostras se pode realizar o teste de paternidade?

Supostamente, poderíamos realizá-lo através de toda e qualquer amostra de tecidos da criança e do pai, já que todas as nossas células têm rigorosamente a mesma informação dentro do seu núcleo – só diferem no tipo de genes que, a cada momento, têm activados ou desactivados. Regra geral, utiliza-se uma análise sanguínea devido à facilidade de obtenção e manipulação da amostra.



5 – Poderemos, no futuro, acabar com todas as doenças por manipulação genética?

Claro que não. Em primeiro lugar, o nosso organismo contrai, ao longo das nossas vidas, um número muito grande de doenças que são causadas pelo ambiente, e não por qualquer segredo da genética: é a picadela de um mosquito que causa a malária, assim como é o contacto do nosso sangue com o sangue de uma pessoa infectada que causa a SIDA. A genética não tem nada a ver com estas coisas, pelo que a engenharia genética não pode curá-las. A gripe comum é causada por um vírus: mesmo com vacina, como o vírus se adapta, acabamos sempre por apanhá-la. E, em segundo lugar, não podemos esquecer-nos de que a Natureza é um alvo em movimento: nós descobrimos como curar certas pragas, como a sífilis ou a tuberculose, e ela inventa uma praga nova, como a SIDA ou o vírus de Ebola.



6 – O ser humano evolui biologicamente?

Do ponto de vista evolutivo, o Homo sapiens não está propriamente a evoluir, ou seja, a dar sinais de vir a ramificar-se em três ou quatro espécies diferentes. A única coisa que faz é especializar-se: tende a ter cada vez mais habilidade para explorar os seus recursos e capacidades especiais (no caso dos humanos, o espantoso cérebro com lobo frontal e a consequente consciência), desleixando outras capacidades competitivas, como a velocidade, a dentição, ou a cobertura pilosa. Há vários casos de espécies que se especializam de tal forma que, evolutivamente, acabam por entrar num beco sem saída. Do ponto de vista da velocidade da luz, não fazemos a mínima ideia do destino que nos espera.



7 – Podemos vir a ser muito diferentes no futuro?

Não. Podemos vir a viver mais anos, a manter a aparência jovem até mais tarde, podemos ter melhor qualidade de vida ao mesmo tempo que nos tornamos mais indefesos e sensíveis perante oscilações ambientais vindas do exterior, até podemos perder mais uns pelos. Provavelmente, ficaremos mais altos. Mas não vamos ser assim tão diferentes do D. Afonso Henriques como isso.



8 – Quem foi Mendel?

Gregori Mendel foi um frade austríaco que viveu na segunda metade do século XIX, estudou durante décadas os padrões de reprodução das cores em gerações sucessivas de ervilhas-de-cheiro que mandava o jardineiro plantar nos jardins do convento, e fez tudo isto com tanto afinco que conseguiu apresentar ao mundo as duas grandes primeiras leis da hereditariedade: na primeira geração as características herdadas são metade da mãe e metade do pai, e na segunda geração tínhamos 25% da mãe, 25% do pai e 50% de mistura. Também foi ele o primeiro a perceber que esta informação hereditária estava guardada em segmentos precisos do cromossoma, a que nós hoje chamamos os genes e a que ele, na altura, chamou os factores.

11/10/2010

ENSAIO: Biodiversidade - Moluscos

2010, é o Ano Internacional da Biodiversidade, e tem servido não só para informar os cidadãos da necessidade de preservar o mundo vivo, como também têm sido debatidas as razões pelas quais o devemos fazer.
Olhemos para o caso dos Moluscos. O filo Mollusca é o segundo maior em número e variedade de espécies (precedido apenas pelo filo Arthropoda, onde se encontram crustáceos, insectos, aracnídeos, entre outros). Ao longo do processo evolutivo de milhões de anos tiveram a oportunidade de colonizar diversos locais. Os moluscos são animais de corpo mole e sem esqueleto que podem ser encontrados em terra ou na água – habitam em águas doces, salobras ou salgadas -, a grandes profundidades ou a elevadas altitudes, em pântanos, lagos, grutas, montanhas ou florestas. Podem apresentar uma concha externa, interna (revestida pelo manto), ou podem mesmo não ter concha. Exemplos de moluscos conhecidos são os quitons (poliplacóforos), lesmas-do-mar, conus, olivas, caracóis (gastrópodes), amêijoas, mexilhões, ostras (bivalves), lulas, polvos, chocos (cefalópodes).
Se os seres-humanos preservarem os animais deste filo, e se os consumirem de um modo sustentável, poderão continuar a usufruir deles no futuro. Estes animais têm tido ao longo da História uma importância relevante a vários níveis: a nível cultural os moluscos e as conchas podem ser encontrados na mitologia, arquitectura, e pintura; as pérolas, que resultam de um mecanismo de defesa natural dos bivalves, possuem um reconhecido prestígio a nível estético; as conchas podem ser utilizadas na construção de peças artísticas melhorando a economia de zonas costeiras; diferentes moluscos são usados na alimentação de vários povos; derivados destes animais podem ser usados na cosmética e até na biomedicina.
Eis várias razões por que é imprescindível a preservação dos moluscos, sendo que o mesmo poderia ser dito de outros grupos de animais e plantas. Torna-se assim importante proteger a biodiversidade que nos rodeia.