21/05/2010

PARA SEMPRE: Aulo Gélio

"Consistiam [as cerimónias do noivado romano no tempo do Império] numa promessa recíproca entre os noivos com o consentimento dos respectivos pais e perante certo número de parentes e amigos (...). Concretizava-se esta promessa na entrega pelo noivo à noiva de presentes mais ou menos onerosos e de um anel simbólico (...) em certos casos de ferro dourado, noutros de oiro como as nossas alianças. A noiva tinha o cuidado de o meter imediatamente no dedo em que ainda hoje habitualmente se usam as nossas alianças, ou seja, «o dedo vizinho do dedo mínimo da esquerda», a que nós chamamos por isso mesmo o «anular» palavra derivada do baixo latim (annularius). Esquecemos já a razaão pela qual os Romanos escolheram para o efeito este dedo, mas Aulo Gélio [autor latino do século II d. C.] explica-no-la com um laborioso rodeio: «Quando se abre o corpo humano, como fazem os Egípcios, (...) encontra-se um nervo muito fino que parte do anular e chega ao coração. Julga-se conveniente conceder a honra do anel a este dedo, de preferência a outro, por causa da estreita conexão, da espécie de laço que o une ao órgão principal». Com esta relação directa estabelecida em nome de uma ciência imaginária entre o coração e o anel de noivado Aulo Gélio quis evidentemente sublinhar a seriedade com que se encarava o noivado, a solenidade do compromisso que ele consagrava, e principalmente a profundeza do sentimento de recíproca afeição que lhe atribuíam os contemporâneos (...)."
Jérôme Carcopino, A Vida Quotidina em Roma no Apogeu do Império, Lisboa, Livros do Brasil, s.d., pp.106-107.