12/06/2011

LÁ FORA: Encontros de História da Ciência

ENCONTROS DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA – CEHFCi

FUNDAÇÃO LUSO-AMERICANA PARA O DESENVOLVIMENTO: 2011

III Encontros de História da Ciência – Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência

FUNDAÇÃO LUSO-AMERICANA
RUA SACRAMENTO À LAPA, 21
4, 5, 6, 7 e 8 JULHO de 2011

Coordenação Científica: Clara Pinto Correia e Maria de Fátima Nunes

Estes III Encontros de História da Ciência organizados pelo CEHFCi na Fundação Luso Americana inserem-se na prática institucional de divulgar a actividade de uma unidade de investigação financiada pela Fundação de Ciência e Tecnologia. Está em causa uma mostra significativa do trabalho científico em que investigadores integrados e estudantes de doutoramento e mestrado se encontram envolvidos.

Assim, os III Encontros são um pretexto para um conjunto de sessões de trabalho centradas nos eixos estratégicos que temos em curso, sob a designação de PHYSIS: neles convergem as três grandes linhas de desenvolvimento científico em curso. São elas a História e Filosofia da Ciência, e esta em articulação com Educação de Ciência, e com a Museologia e Património Científico.

Desta forma, graças à hospitalidade institucional da FLAD, podemos durante uma semana, ao final de tarde e sob a luz única do Tejo, divulgar e debater o trabalho de investigação em curso na unidade, através de diferentes foci de amostragem, numa estreita interacção entre investigadores seniores e os alunos de estudos graduados associados ao CEHFCi.


PROGRAMA

04 de Julho (17h–20h)
Sessão 1 : História da Ciência – Biologia:
Luís Carvalho (Instituto Politécnico Beja – CEHFCi) - Contexto CEHFCi: História da Biologia e História da Ciência
Moderação – Elisabete Pereira (doutoranda em História e Filosofia da Ciência; CEHFCi)
Oradores:
Clara Pinto Correia (Resarch Scholard Dep. Biology AMHERST College, USA; CEHFCi) - História do Pensamento Biológico na Literatura de Viagem : o século XIV e os itinerários de Mandeville através da Terra redonda.

Coffee Break (18h30m - 19h)

João Monteiro (CIBIO - Universidade do Porto) - Aperfeiçoar a Espécie Humana: a influência portuguesa nas ideias melhoristas do médico francês Vandermonde


05 de Julho (17h–20h)
Sessão 2: Educação de Ciência: benefícios do recurso à cultura da experimentação
António Neto (Universidade de Évora: Dep. Ciências Educação; CEHFCi) - Contexto CEHFCi: História da Ciência e Educação de Ciência
Moderação – Isabel Cruz (doutoramento de História e Filosofia da Ciência)
Oradores:
Mariana Valente (Universidade de Évora : Dep. Física ; CEHFCi) - Culturas experimentais na História da Ciência e do Ensino das Ciências - da Natureza aos Objectos, dos Objectos aos Experimentos, dos Experimentos às Experiências de aprendizagem

Coffee Break (18h30m - 19h)

Nazaré Caldeira (Mestre em Física, especialidade em Ensino, Professora na EB23 André de Resende-Évora) - "A Experiência de Oersted no Ensino da Física: Contributos da História e Filosofia da Ciência para a sua valorização didáctica"


06 de Julho (17h–20 h)
Sessão 3 : Sessão 3: História das Ciências da Saúde no Portugal Contemporâneo
Maria de Fátima Nunes (Universidade de Évora : Dep. História; CEHFCi) - Contexto CEHFCi: História da Ciência no século XX
Moderador: Quintino Lopes (Doutorando em História e Filosofia da Ciência; CEHFCi)
Oradores:
Madalena Esperança Pina (Faculdade Ciências Médicas_UNL; CEHFCi) - A Colina da Saúde em Lisboa: Redes de Ciência.

Coffee Break (18h30m - 19h)

Alexandra Marques (Doutoranda em História e Filosofia da Ciência; CEHFci) - O Instituo Bacteriológico Câmara Pestana e o Combate à Raiva


07 de Julho (17h–20 h)
Sessão 4 : A importância da Museologia na História da Ciência
João Brigola (Universidade de Évora : Dep. História; CEHFCi) - Contexto CEHFCi: História da Ciência e Museologia
Moderador: Henrique Coutinho Gouveia (CEHFCi)
Oradores:
José Manuel Brandão (CEHFCi) - Herança histórico-científica do Museu Nacional de Lisboa (Mineralogia e Geologia)

Coffee Break (18h30m - 19h)

Luís Ceríaco (Doutorando em História e Filosofia da Ciência; CEHFCi) - Colecções zoológicas. A importância dos museus para o desenvolvimento da zoologia em Portugal (XVIII_XX)


08 de Julho (17h–20 h)
Sessão 5 : História e Filosofia da Ciência e CEHFCi - Sessão final
Augusto Fitas (Universidade de Évora: Dep. Física; CEHFCi) - A Academia de Berlim, palco no século XVIII de uma disputa em torno do Princípio da Menor Acção
Moderação e apresentação: Clara Pinto Correia
Coffee Break (18h30m - 19h)
Sessão de Encerramento

05/06/2011

NOTA BENE: Montanhas da Loucura

Vai ser lançado em breve pela editora Relógio d'Água o grande clássico da ficção científica de horror, pejado de referências do foro biológico e geológico, Nas Montanhas da Loucura, de J. P. Lovecraft. Traduzido do inglês por João Lourenço Monteiro e Clara Pinto Correia, este livro foi um dos primeiros a lidar em grande escala com a questão da criação de vida sintética à superfície da Terra. Já que esta é uma das linhas da frente mais pertinentes da Biologia de hoje, deixamo-vos aqui, à laia de apresentação, o texto do Prefácio. 

Prefácio


Como foi que aqui chegámos



Nas Montanhas da Loucura é um verdadeiro clássico daquela ficção científica destinada a gelar o sangue nas veias do leitor pelo poder esmagador do cenário, omnipresente, impotente e angustiante. Stephen King chamou-lhe a melhor literatura de horror do século XX. Grande parte do seu poder de colar a vítima à narrativa é o efeito sugestivo do mistério central de toda a aventura: a capacidade de criar vida sintética e produzir organismos a gosto conforme as necessidades. Grande inspiradora de ficcionistas de ciência, a vida sintética teve até hoje inúmeras aparições em variadíssimos caprichos de enredo. Mas, neste livro, atinge consensualmente uma das suas glórias máximas.

A ficção científica tem já há bastante tempo esta qualidade curiosa de se antecipar à própria ciência – com o lado ambíguo de recrutar para cenários aterradores o que mais tarde a ciência consegue chegar a fazer com objectivos perfeitamente decentes. Se não fosse esta dualidade fascinante, certamente que não existiriam hoje no mundo tantas comissões de ética. Bem vistas as coisas, tanto bebés-proveta como clones começaram por ser criaturas indefesas enfiadas em frascos de ditadores ensandecidos. Sendo assim, ao prepararmo-nos para ler um longo delírio pejado de criaturas sintéticas, talvez seja bom começar por esclarecer que sim senhor, é verdade: os cientistas já conseguiram criar uma célula sintética. Foi agora mesmo, mas abriu a porta para todo um mundo de possibilidades que ontem só existiam na ficção.

Vejamos, então, a realidade.

Para percebermos melhor o que está realmente em causa por intermédio deste formidável mundo novo, convém regressarmos ao dia 21 de Maio de 2010, quando Craig Venter, do Maryland, anunciou ao mundo que a sua equipa tinha criado uma célula sintética – e os colegas de todo o mundo consideraram que ele não andava muito longe da verdade.

Uma célula sintética. Há décadas que andava muita gente a tentar.

Em termos muito latos, as primeiras notícias diziam que a equipa de Craig Venter tinha conseguido fabricar um genoma que não existia na natureza e inseri-lo numa bactéria. No entanto, depois de bem escrutinizados os dados, vários cientistas insistiam que não era claro se aquele genoma era fabricado de raiz ou era apenas a cópia de outro genoma pré-existente –– ou seja, se o que se fizera não passaria de um mero acto de clonagem. Esta disputa explica-se facilmente. Craig e os colegas tinham usado como modelo o DNA de uma bactéria, e tinham-no reconstruído em laboratório de forma cem por cento sintética. Para que este DNA fabricado se distinguisse claramente de todos os outros, introduziram-lhe a espaços as chamadas “marcas de água”: sequências absurdas, que codificavam para os nomes dos membros da equipa, e mesmo para algumas passagens de Joyce. Introduzido numa bactéria previamente esvaziada de todo o seu DNA, este genoma sintético pô-la a funcionar e tornou-a perfeitamente apta para sobreviver no incrível universo das bactérias.

Isto nunca se tinha feito antes e deixou muito geneticista molecular de respiração suspensa, a ousar imaginar o que realmente poderá acontecer agora já a seguir, e porquê.

Tal como acontece em Nas Montanhas da Loucura, a ciência da vida sintética é um sonho civilizacional. A grande diferença, no caso da vida real, é que nenhuns Antepassados precisaram de vir do Espaço para tudo isto que se segue ser possível. As maiores maravilhas da ficção mais arrojada existem mesmo. Estão escondidas milhões de vezes abaixo do limite de resolução dos nossos olhos. Deus seja louvado, temos neurónios.



Para os que investem os seus esforços científicos no genoma sintético criado em laboratório, o grande sonho é ver chegar o dia, ainda muito distante, em que poderemos sentar-nos e pensar que forma de vida é que precisamos de construir nesse dia –– e depois pronto, desenhá-la e construí-la, como se faz com um carro ou uma ponte.



Embora os seus resultados ainda venham longe, a chamada biologia sintética já existe há umas boas décadas. Baseia-se na premissa de que, na maior parte dos casos, os organismos podem partir-se numa série de partes. A mais importante destas partes seria o gene, a sequência de informação no braço do cromossoma que contribui para a passagem de uma determinada mensagem para a célula. Os genes contêm instruções para se fazerem proteínas, e estas moléculas formam-se em diferentes tipos e tamanhos. É também dos genes que vem a informação sobre onde e quando estas proteínas devem ser utilizadas. As proteínas interagem umas com as outras, comandando várias das funções da célula.



Sabe-se, desde há muito tempo, que certos genes são essenciais: sem as proteínas que codificam, a célula não funciona. Mas muitos outros genes, em contrapartida, são opcionais: pelo menos no laboratório, o organismo dá-se muito bem sem eles.



É também importante sabermos que termos um ou dois genes “extra” de fabrico humano não costuma ser um problema. Já experimentámos inserir um gene novo, por uma grande variedade de razões, em organismos que vão da petúnia à cabra. Desde 1980, a insulina humana tem sido produzida em massa por células bacterianas geneticamente alteradas para o fazerem.



Até agora, já tínhamos conseguido remexer na Natureza para criar versões de genes e proteínas que não existem espontaneamente. A proteína fluorescente verde, por exemplo, é feita naturalmente pelas alforrecas. Os cientistas conseguiram alterar esse gene para que a proteína brilhe com mais força e possa ter outras cores. A fluorescência é já desde há muitas décadas um instrumento essencial em Biologia Celular e Molecular.



E, mais recentemente, apareceram os genomas construídos em laboratório. O primeiro que se fez, há oito anos, foi de um poliovirus –– ou seja, da estrutura de DNA mais simples do mundo vivo. Depois tornou-se possível fazer cópias sintéticas de genomas pré-existentes de bactérias. Agora, com estes novos resultados, parece que nos tornámos capazes de fabricar genomas bacterianos que nunca existiram na Natureza.



Mas as dificuldades neste campo continuam a ser muito grandes. Esta publicação de Craig Venter com o genoma todo feito em laboratório que fez funcionar a bactéria pode ter sido uma enorme proeza, mas é só um passinho de bebé em direcção à vida sintética: não é propriamente nenhum salto de gigante. A bactéria resultante quase não diferia da bactéria que já existia. A única diferença era que o seu DNA tinha as tais “marcas de água” , que a identificavam como tendo sido fabricada, em vez de resultar da evolução.



Um dos grandes problemas em criar vida no laboratório é que os sistemas biológicos evoluídos são complexos, e comportam-se muitas vezes de formas que ainda não conseguimos predizer. Podemos especificar a sequência de DNA que faz uma determinada proteína, mas nem sempre conseguimos prever com que é que vai parecer-se a proteína ou como irá interagir com as outras proteínas da célula. E, de qualquer maneira, na maior parte dos casos, os sistemas biológicos não são todos iguais uns aos outros: é verdade que nos tornámos bons a produzir DNA, já sabemos copiar genomas, alterá-los ligeiramente –– mas ainda estamos muito longe de conseguir construir um genoma a partir do nada.

Note-se que o processo de inventar uma nova linguagem genética permite-nos perceber melhor aquela que já evoluiu. E isto já começou. As primeiras tentativas de criar DNA alternativo revelou rapidamente que cada “corrimão” da dupla hélix é muito mais fundamental para a forma como a célula trabalha do que tudo o que pudéssemos ter imaginado antes.



Mas agora vamos deixar-nos de modéstias e passar à parte realmente fabulosa – aquela onde a vida sintética entra a matar, e que ninguém sonharia criar na ficção científica porque era preciso ter estudado Genética Molecular até hoje. Apreciem o projecto da Segunda Natureza.

Embora não consigamos expressar-nos fluentemente na linguagem genética da Natureza, não deixa de existir a possibilidade excitante de um dia escrevermos a nossa. Começámos pela engenharia de proteínas que não ocorrem normalmente no mundo vivo, e estamos a começar a construir moléculas que se parecem com o DNA na sua capacidade de acumular informação, mas que pode ser lido de forma diferente pela maquinaria da célula. Isto deve permitir-nos construir uma “segunda natureza”: um grupo de organismos que usam uma linguagem diferente, e que não podem interagir facilmente com as formas de vida que evoluíram na Natureza.



E, sobretudo, que ninguém se lembre de proibir os cientistas de avançarem por aqui, com a alegação idiota de que podem acontecer coisas más. Claro que há muitas formas em que poderemos utilizar organismos feitos por design, umas boas e outras más. Mas o que é realmente importante é que, ao tentarmos criar vida artificial, aprendemos cada vez mais sobre que a vida que foi evoluindo desde o princípio dos tempos. E ainda nos falta estudar muito para entendermos como foi que aqui chegámos. Muito.



Clara Pinto Correia

20/05/2011

LÁ FORA: Dia da Biodiversidade

Evento: Dia da Biodiversidade na exposição “A Evolução de Darwin” – Porto
Dia: 22 de Maio 2011
Horário: 10h até 19h
Local: Casa Andresen, Jardim Botânico do Porto, Rua do Campo Alegre, 1191
4150-181 Porto, Portugal
Coordenadas GPS:
Latitude: 41.15364955646922 Longitude: -8.642528057098389

Pode encontrar mais informações no Site: http://expodarwin.up.pt/  

O que irá acontecer neste dia?
Poderá visitar a exposição “A Evolução de Darwin”, com a opção de visita guiada, como é normal aos fins-de-semana. Para além disso, irão decorrer conversas com oradores convidados, dos quais se destaca a professora Teresa Andresen, Directora do Jardim Botânico do Porto (e familiar da escritora Sofia de Mello Breyner Andresen). Também irá haver actividades práticas paralelas para conhecer melhor a nossa biodiversidade, sendo estas actividades dirigidas tanto a um público adulto como aos mais novos. Visite-nos!

01/03/2011

PARA SEMPRE: O Mundo Zoológico, de acordo com Gilliatt

"[Gilliatt] era um pensativo. Nada mais. Observava a natureza d'uma maneira um pouco extravagante. Tinha-lhe succedido, por diversas vezes, encontrar na agua do mar, perfeitamente limpida, animaes desconhecidos, um tanto volumosos, de fórmas diversas, pertencentes á especie medusa, os quaes, tirados do liquido, se assimilhavam a vidro coalhado, e immersos de novo, por serem identicos em diaphaneidade e em côr, confundiam-se com o ambiente, a ponto de não se differençarem ambos. Concluia elle d'isto que, se na agua habitavam transparencias vivas, era natural suppor que a atmosphera estivesse povoada d'outras tantas transparencias, egualmente com vida. As aves não são os habitantes do ar, são apenas os seus amphibios. Gilliatt não acreditava que o ar estivesse deserto. Dizia elle: se o mar está repleto, porque é que ha de estar vasio este espaço? Devia haver creaturas côr do ar, que, entranhando-se na luz, desapparecessem á nossa vista. Quem póde provar que não existem estas creaturas? Mesmo por analogia, é possivel que o ar tenha os seus peixes, da mesma forma que o mar. E se os tem, devem estes peixes do ar ser proporcionalmente diaphanos; beneficio da providencia creadora, tanto para nós como para elles; para nós, porque nos não turbam a claridade, para elles, porque não nol-a turbando, não são vistos, e, portanto, não podem ser agarrados. Imaginava Gilliatt que, se podessemos exgotar de atmosphera a terra, e pescar no ar, como podemos fazer em qualquer lagoa, haviamos de descobrir alli uma infinita quantidade de assombrosos entes. E, então, accrescentava elle, no meio das suas reflexões, muitas coisas ficariam explicadas."
Victor Hugo, Os Homens do Mar, Lisboa, Empreza da Historia de Portugal, 1901, pp. 42-43.

31/01/2011

A VER: O Entomólogo da Regaleira



Na fotografia, António Augusto de Carvalho Monteiro (1848-1920), célebre idealizador da Quinta da Regaleira, em Sintra. Para além do monumento que o tornou conhecido, Carvalho Monteiro foi um coleccionador de espécimes zoológicos, nomeadamente borboletas, de que reuniu vários exemplares. Teve ainda uma colecção de conchas e outra de orquídeas. Homem de cultura, foi também um dedicado estudioso d' Os Lusíadas. Na imagem, Carvalho Monteiro aparece com um grande conjunto de equipamento para investigação entomológica, algum do qual desactualizado, mas cujo uso, como investigador naturalista que foi, deveria conhecer perfeitamente. Um homem invulgar, cujo percurso não é ainda todo conhecido. A aprofundar.

Fonte: Gonçalo Pereira e António Luís Campos, «A mansão e o filósofo», National Geographic Portugal, vol.10, nº112, Julho de 2010 [s. nº de pp.].

03/01/2011

APELO DA SELVA: A Biologia da Crise


Este cartoon é uma referência à descoberta de um dipluro, insecto apterigota, numa gruta algarvia pela bióloga Sofia Reboleira. São animais muito pequenos, com cerca de 3 mm, desprovidos de olhos e asas, sendo, no plano na evolução, antepassados dos insectos que commumente conhecemos. Este agora descoberto - o Litocampa mendesi - está adaptado à vida nas grutas, onde forma uma comunidade relativamente reduzida.
Diário de Notícias, Ano 147º, nº 51768, p.31 (notícia) p.54 (cartoon) [3 de Janeiro de 2011].

VOZES: Mais um ano

E pronto, cumprimos mais um ciclo de mais um ano.
São absolutamente espantosos, todos estes ciclos que mantêm a Natureza em equilibrio -- e sempre à procura de mais, de melhor, de qualquer coisa outra.
Venham comigo, sentir o que eu senti:


Démos o nosso Melhor para celebrar o renovar cíclico da vida.


São tantas e tantas as frases feitas à volta deste ritual, que gostaria de personalizar um pouco esta “encomenda” quase obrigatória – e mando-a só hoje, depois de já estar tudo feito e dito, para que não se perca na enxurrada de outras mensagens. Antes de escrever, pensei muito.

Estas festas anuais são, sobretudo, o grande mistério.

Cristo transcende-nos até aos nossos dias não só porque ele mesmo é “transcendência”, mas também porque, pela primeira vez, Deus se torna homem: Ecce Homo passa por uma “Vida, Paixão e Morte” como qualquer um de nós.

Ressuscita – regressa de entre os mortos e ascende à eternidade – de onde veio. É um Deus. Nós não podemos fazer o mesmo.

Uma vez por ano – simbolicamente – Cristo repete a travessia.

E, com ele, todos nós.

Uma vez por ano, apaixonados pelo mistério, os amputados afectivos globais fazem longas travessias para regressar ao ninho onde se encontra a sua ascendência ou descendência; a família passa a ser a sua “transcendência”.

A “pátria” – uma vez por ano, ao menos – transforma-se realmente em “matria”, como queria Natália Correia.

Esse seio onde estão os nossos passa a ser o universo, independentemente do país onde nos encontramos; independentemente da solidão e pobreza dos exilados de todo o mundo, que tudo fazem para reinventar a sua família mesmo que seja apenas numa garrafa solitária.

Por momentos, os habitantes do planeta sentem uma espécie de abraço quente que vem de todas as partes e vai para todo o mundo.

Maior milagre que este?

É um mistério.

Não há possibilidade científica de certificar a origem nem a verosimilhança dos sucessos ocorridos há mais de dois mil anos. O facto é que funciona o milagre da renovação e tudo se torna real.

O facto é que milhares de milhões de pessoas gozam desta unidade emocional, Independentemente da sua religião ou da sua descrença.

Que o milagre frutifique em nós, desta vez melhor do que nunca.