22/01/2012

APELO DA SELVA: Sobre a extinção da pereira abacate no estado selvagem

Sabemos que o desaparecimento da árvore do cacau na América Central no seu estado selvagem se deu muito cedo: há mais de dois mil anos que no México, o seu maior produtor natural, a árvore só cresce em plantações. É um fenómeno estranhíssimo, semelhante ao das tamareiras, que são típicas de habitats desérticos mas, nos nossos dias, só lá crescem se forem plantadas. Depois dão-se lindamente e desfazem-se em tâmaras, o que prova, se prova fosse preciso, que aquele é mesmo o habitat natural delas, a sua terra de origem, o tipo de solo e de clima para os quais foram modelados pelo processo lento e meticuloso da evolução. Mas, sozinhas, já não conseguem lá crescer.


Há dois milénios que acontece o mesmo com a árvore do cacau.

O que é que poderá ter causado o desaparecimento da árvore do cacau no estado selvagem, numa idade tão precoce da colonização humana da América Central? Por enquanto, não há resposta. Só se conhecem sugestões especulativas relacionadas com fenómenos semelhantes. O melhor de todos é, sem sombra de dúvida, o da incapacidade de reprodução natural da pereira abacate.

Há bastantes autores que defendem que a extinção quase total das pereiras abacate foi causada, há doze ou treze mil anos, pelo desaparecimento de um gigante chamado Toxodon, e de outros grandes mamíferos vegetarianos que seguiam o mesmo tipo de dieta, como as preguiças terrestres gigantes, os gliptodontes, ou os gonfotérios. Devido ao seu tamanho descomunal, estes bichos engoliam o abacate inteiro com o seu caroço enorme lá dentro, e depois defecavam estas sementes, intactas, em várias partes da floresta. Ora acontece que, com a extinção dos mamíferos gigantes, os animais mais pequenos, como o tapir, só podem mordiscar a casca e cuspi-la, falhando na tarefa imprescindível da distribuição das sementes inteiras e intocadas. Basicamente, tal como acontece com a tamareira, agora é só a agricultura humana que mantém vivas as pereiras abacate.

Ironicamente, para fechar o círculo numa demonstração perfeita de como se desencadeia o desequilíbrio de todo um ecossistema, pode muito bem ter sido também a própria intervenção humana que levou à extinção dos mamíferos herbívoros gigantes do Pleistoceno: eram animais lentos, pesados, com poucas defesas, e furiosamente cobiçados pelos caçadores.

Sem comentários:

Enviar um comentário