Do meu amigo António, dedicado há mais de uma década à questão da protecção e manutenção das praias, chegou-me uma reflexão tristemente apropriada ao fim da época balnear 2009.
Passo a citar:
“Somos todos tão bons”
Grândola 26 /09 /2009
No início deste exercício de reflexão, vem-me à memória um texto do José Mário Branco (FMI), em que ele diz “Somos todos tão bons”.
Somos provavelmente um dos maiores Países da Europa, se tivermos em conta aquilo que muitos esquecem: o nosso “território” marítimo, que tem servido para tudo e para nada.
Soube há poucas horas que mais 3 pessoas morreram afogadas sem assistência, na praia da Fonte do Cortiço, no Concelho de Santiago do Cacem. Isto aconteceu, portanto, em plena época balnear, que vai de 01 de Junho a 30 de Setembro –– tal como decretada pelo Instituto Socorros a Náufragos, numa abertura com pompa e circunstancia que decorreu há 2 anos a escassos metros dessa praia agora tragicamente trazida á ribalta. Eu sei, todos sabemos, que depois o que realmente vigora são as regras do mercantilismo, uns porque se assumem como prestadores de serviços mas depois não conseguem cumpri-los, outros porque sempre poupam alguns trocados; e as Entidades coniventes em tudo lá vão “olhando” para o lado e concordam com o que lhes é praticamente imposto. As vitimas essas não têm culpa, pois, é isso, estamos a falar da vida humana, que: Não tem preço mas tem custos.
Tudo isto se resume a uma enorme falácia. O Nadador Salvador, tal como funciona nos moldes actuais, está moribundo, senão mesmo morto. Mantê-lo nos cuidados intensivos é pura perda de tempo. Mais, é um risco objectivo e permanente para os utentes das praias.
Passo a explicar:
Uma formação de cento e poucas horas não é, e dificilmente virá a ser considerada como apta para uma qualquer profissão. A formação académica e a qualificação técnico/profissional são a pedra de toque para uma profissionalização. Desengane-se quem pense contrariar este processo: o curso Técnico/Profissional de salvamento aquático já se lecciona em algumas escolas secundarias e técnicas deste País, credenciado e subsidiado (eu disse bem, subsidiado) pelos Ministérios da Educação e da Segurança Social.
O grande problema é que alguns autistas continuam a insistir no saudosismo do passado. E então fazem-se cursos, reciclagens, associações e federações, pura e simplesmente processos intelectualmente medíocres, para, como dizem os nossos irmãos Brasileiros, “boi ver” –– e, mais grave, para alguns aproveitamentos pessoais.
Alguém poderá ser dizer bem alto que chega de sermos “tão bons”? É preciso dizer BASTA, este modelo de salvamento aquático não serve, está caduco é completamente obsoleto, dê-se para abate, por que razão se continua a travar o inevitável?
Estes quase 900 km de costa merecem técnicos profissionais que o sejam na sua plenitude, e não pouco mais que uns quantos (esforçados) tarefeiros a recibo verde.
Dê-se formação a estes jovens condigna e capaz de os levar á profissionalização, deixem a demagogia de pacotilha, concertem-se os esforços num caminho sério, por favor Nadadores Salvadores e candidatos, dirijam-se ás entidades de formação (Escolas secundarias e Técnicas) para obterem a requalificação de Técnico de Salvamento Aquático, e assim poderão reivindicar a vossa profissionalização.
Não podia fechar esta reflexão sem elogiar a Junta de freguesia de Melides na pessoa do Senhor Presidente e provavelmente mais alguns por cumprirem a lei e assim poderem “deitar” a cabeça na almofada com a consciência tranquila.
António E. Menezes e Cunha
Email: ant.menezes@clix.pt
08/10/2009
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