Há bastante literatura produzida sobre esta temática, publicada por etnobotânicos, químicos e neurologistas de créditos mais que firmados, mas o que importa aqui reter é que todos esses autores descrevem, basicamente, um ponto comum e incontornável: como cada cultura do mundo descobriu plantas com poderes alucinogénicos, ou de qualquer outra forma intoxicantes, muitas vezes veneradas como sobrenaturais ou divinas.
Por exemplo.
O Velho Mundo não sabia nada sobre as poderosas drogas alucinogénicas da América Central – o ololiuhqui (a que os espanhóis chamaram semilla de la Virgen, semente da Virgem); o cogumelo psilocibíneo sagrado, teonanacatl, a carne de Deus (os seus constituintes activos também são derivados do ácido lisérgico, geralmente conhecido pelas iniciais LSD); e, no Norte do México, sobrepondo-se com o Sul dos Estados Unidos, os botões do cacto peyotl, às vezes chamados botões mescal (embora não tenham nada a ver com o mescal, a aguardente que se destila do agave).
Há produtos alucinogénicos ainda mais exóticos como a ayahuasca (a vinha da alma), feita com a vinha da Amazónia Banisteriopsis caapí, que William Burroughs e Allen Ginsberg descrevem em The Yage Letters; e os produtos ricos em triptamina – Virola, yopo, cojoba , todos com ingredientes quimicamente idênticos, e estruturalmente muito próximos do neurotransmissor designado por serotonina. Os padrões geométricos das decorações dos lugares sagrados de um grande número de culturas apresentam uma semelhança espantosa com as formas descritas para as enxaquecas extremas, iguais às das resultantes da ingestão de uma vasta panóplia de indutores de estados alterados de consciência.
Curiosamente, o trabalho dos arqueólogos mostra-nos que, na sua grande maioria, estas substâncias são consumidas pelos humano, desde os tempos pré-históricos. Se isto se passou de forma ritual ou de forma aleatória, é, na maioria dos casos, difícil de dizer. Terá este consumo ocorrido por acidente? Ou antes por tentativa e erro, na nossa tentativa constante de nos superarmos a nós próprios, mesmo quando ainda estamos dentro de umas cavernas inóspitas, sem grandes defesas contra o exterior?. E por que é que plantas tão botanicamente diferentes convergiram, por assim dizer, para compostos proteicos tão similares? E que papel desempenham estes compostos na vida da planta – serão meros produtos secundários do metabolismo, como é o caso do índigo, tão abundante no reino Vegetal? Ou serão usados para deter predadores venenosos, como a estricnina, ou outros alcalóides amargos? Ou desempenharão papeis essenciais nas próprias plantas?
Deus lá sabe.
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