19/10/2010

O APELO DA SELVA: Os Deslumbrados

DEUS DÁ-NOS AS NOZES, MAS NÃO É ELE QUEM AS PARTE


Como os órgãos sexuais controlam as migrações



A história dos salmões do Pacífico e do Atlântico impressiona muita gente: depois de vários anos passados no oceano, e quando chega a altura da reprodução, os salmões reconhecem sem hesitações o rio ou a ribeira de onde brotaram e sobem-na até ao cume das montanhas, onde está a nascente, incansavelmente em saltos atléticos contra a corrente, até atingirem a água fria onde anos antes eles próprios vieram ao mundo. Agora os machos voltam a copular com as fêmeas, voltam a nascer hordas de peixinhos minúsculos e a geração dos pais fica com eles apenas o tempo estritamente necessário até que os jovens saibam nadar e alimentar-se. Depois, todos juntos, recomeçam a descer o rio, rumo ao mar onde se tornarão adultos.



A desova das grandes tartarugas também é motivo de emoção para muitos: aparecem de vez quando, nas praias e rochas das costas do Pacífico e do Índico, sem que se lhes perceba qualquer preocupação na vida – a não ser, evidentemente, a transmissão de genes à progenia, bem como a garantia de que esta vai realmente existir. Para isso, uma vez por ano, assim que entra o primeiro dia do período fértil, chegam a nadar mais de três mil quilómetros para atingirem as ilhotas mais remotas, no meio do mar, onde elas próprias nasceram. Depois da cópula, fazem um buraco na areia tão fundo quanto possível, depositam aí todos os embriões, cobrem-nos outra vez para que ninguém os veja, e vão-se embora rapidamente – e esta parte é muito importante, pois as praias das ilhas, mesmo das mais remotas, não são, de todo, tão inócuas como as nascentes dos rios no cume das montanhas.



Estes dois exemplos da vida animal, tanto o do salmão como o da tartaruga, têm em comum um aspecto fundamental no desenvolvimento: a necessidade de regressar ao ponto de origem para recomeçar o ciclo da espécie. Mas o que é que controla este itinerário? Ainda não se sabe. No entanto, sabe-se que, se retirarmos quer aos salmões quer às tartarugas as suas gónadas (os orgãos sexuais, que são ou os testículos ou os ovários) , eles esquecem completamente a aventura da reprodução e ficam nas calmas a aboborar nos oceanos. Engordam muito, como é natural, e os pescadores e empresários servem-se deste truque para tirarem mais carne de cada animal, num processo que retira a estes animais todo o fascínio característico ao comportamento milenar da sua espécie.

Sem comentários:

Enviar um comentário