17/01/2010

A VER: Representações do Naturalismo em Portugal


Na imagem[1] vê-se o 3º Marquês de Angeja, D. Pedro de Noronha, que se faz representar na actividade de naturalista, que cultivou. Podem observar-se os sinais desse empenho, quer nas conchas que estão na mesa, quer nas borboletas expostas ao fundo do gabinete, sem esquecer os livros, naturalmente essenciais para apoio científico nos autores mais avançados do tempo. D. Pedro nasceu em 1716 e faleceu em 1788. Dissimulado opositor do Marquês de Pombal[2], veio a ocupar o seu lugar no reinado de D. Maria I, que sucedia em 1777 a seu pai, protector de Sebastião José. “Numa época em que a alta nobreza habitualmente não integrava o corpo dos ministros do Estado, surpreendeu a nomeação de dois titulares. O primeiro na hierarquia, aparentemente sem ambições políticas conhecidas, presidia ao Real Erário, com a função de ministro assistente ao despacho. Era D. Pedro José de Noronha e Camões de Albuquerque Moniz e Sousa, 3º Marquês de Angeja e 4º Conde de Vila Verde, corifeu da alta nobreza, um velho dado às ciências naturais, conhecido pela sua probidade e arte de cortesão, tão consumada que jamais Pombal lograra atacar esse amigo predilecto do rei.”[3] Teve vários cargos no Estado, sendo significativo o de inspector das obras de reconstrução de Lisboa depois de 1755. Houve influência sua na criação do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda[4], aparecido em 1764, o qual, infelizmente, não pôde dar origem uma geração de conhecidos cientistas portugueses. O investimento essencialmente económico das expedições coloniais – então chamadas “viagens filosóficas” –, a sobrecarga de tarefas burocráticas atribuídas a naturalistas e a consequente perda de espécimes que se degradavam antes da classificação taxonómica nunca tornaram o espaço numa casa de estudo científico eficiente, natural e desejavelmente motivador da modernização dos currículos escolares e universitários. Nem a reforma começada em 1791 resolveu o problema. “Para que semelhante programa de trabalho pudesse ter capitalizado os recursos disponíveis na Ajuda, teria sido exigido ao poder político um maior esforço de investimento quer no apetrechamento das instalações e equipamentos museológicos, quer na requalificação técnica do seu quadro de funcionários (através da contratação de mais naturalistas e da formalização de ensino público no interior dos estabelecimentos), o que quer dizer que a restruturação “economica” teria de ter envolvido, por igual, uma componente “scientifica” especialmente vocacionada para o estudo das colecções.”[5] As destruições e pilhagens que ocorreram durante as Invasões Francesas acrescentaram obviamente muitas dificuldades a esta gestão já ineficiente.


Notas:
[1] A imagem vem de Luís de Oliveira Ramos, D. Maria I, Casais de Mem Martins, Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2007.
[2] Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.2, Lisboa – Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia Limitada, s.d., p.593, s.v. “Angeja, Marqueses de”.
[3] Luís de Oliveira Ramos, D. Maria I, p.65.
[4] Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol.4, Lisboa – Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia Limitada, s.d., p.969, s.v. “Botânico”.
[5] João Carlos Brigola, “Museologia e História Natural em finais de Setecentos – o caso do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda (1777-1808)”, in Anais – Série História, vol. VII/VIII, 2001, EDIUAL, Universidade Autónoma Editora, S.A., pp.227-228 (Actas do Colóquio “A Casa Literária do Arco do Cego”).

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