13/01/2010

ENSAIO: A Importância da História da Ciência

A História é a memória dos saberes humanos e, especificamente, das Ciências criadas pelo Homem. Dentro da literatura humana existe uma ampla biblioteca de exposição científica. O Homem, desde sempre curioso em saber mais sobre o seu ambiente, tem criado métodos de análise e conhecimento dos muitos fenómenos que atraem o seu interesse. Assim se foram desenvolvendo as Ciências que desde há séculos descrevem a Natureza e reescrevem as suas conclusões. O objecto da observação, os métodos e até a sensibilidade do cientista, distanciam-nas entre si e permitem, apesar da natural continuidade entre os seus saberes, uma razoável delimitação de fronteiras, ou seja, a especialização. Mas aproximam-nas a investigação contínua, a crítica dos trabalhos e a pretensão de verdade das conclusões. A importância de uma disciplina como a História parece ser evidente. A História é a narração do passado humano apoiada na leitura crítica de variados documentos. É um repositório de factos pretéritos acerca de todas as sociedades humanas conhecidas, a todo o momento consultável e a todo o momento aumentado. É, pois, pelo trabalho dos seus escritores e “cultivadores” que se conserva, se conhece, se relembra e se critica a Memória. Já aqui se pressente a sua relação com outras ciências, como a Biologia ou a Medicina. A História é a organização da memória dos saberes científicos, para que se saiba sempre o que se acha adquirido e quanto espaço para investigação existe. Explicando melhor: todas as Ciências têm os seus métodos e fins, adquiridos ao longo de muitos séculos de investigação. Observações, tentativas, falhas, estudo, soluções têm feito parte da descoberta de verdades mais ou menos permanentes. Assim, a existência de qualquer ciência pressupõe factos anteriores. Sendo os factos pensados e executados pelo Ser Humano, a existência das Ciências também pressupõe memória. Se a memória é a “conservação de experiência anterior que se manifesta por hábitos ou por lembranças”[1], é a História, com as suas ciências auxiliares, que tem tratado de guardar e sistematizar para consulta e crítica os factos que conduziram ao que são hoje as nossas Ciências. É, por isso, um suporte privilegiado de memória, pois que, na sua acepção geral, a abrange toda. A História nunca poderá ser uma ciência pouco útil ou pouco importante, já que em geral está relacionada com as ideias de identidade, de liberdade e de autonomia. Relativamente à Ciência em particular, afirma o Prof. A. Tavares de Sousa: “A ciência não pode prescindir, para se pensar a si mesma, do conhecimento do seu passado próximo ou remoto, que é o seu modo histórico de formação, a sua própria ontogenia.”[2] Noutro passo, diz o mesmo autor: “O desprezo pela História da Ciência não constitui título de engrandecimento nem sinal de capacidade progressiva. Muito ao contrário. A Ciência de hoje será a História de amanhã.”[3]


Notas:
[1] “Dicionário da Língua Portuguesa”, 5ªedição, Porto, Porto Editora, s.d., p.933, s.v. “Memória”.
[2] A. Tavares de Sousa, “Curso de História da Medicina – Das Origens ao Século XVI”, 2ªedição, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p.3.
[3] Idem, ibidem, p.9.

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