26/11/2009

MAGAZINE: Tsunami - Tragédia, destruição, regeneração.

Provavelmente, muitas pessoas ainda recordarão a tragédia humanitária e a destruição causadas pelo Tsunami a 26 de Dezembro de 2004, que afectou várias localidades do Sueste Asiático[1] . Ondas enormes vindas do mar galgaram terra adentro a uma velocidade de 3-4m/s e com uma pressão hidrodinâmica de 400-800Kg/m2. Esta força da Natureza foi responsável pela destruição de viaturas, edifícios e pela morte de centenas de milhares de pessoas.


Mas, e a nível ecológico, quais as repercussões deste desastre em termos de ambiente e ecossistemas?

O Dr. Somsak Panha, professor na Chulalong University, na Tailândia, colaborou com associações que prestavam auxílio às vítimas desta calamidade, e, simultaneamente, realizou observações, recolhas e estudos para a sua Universidade. Durante a sua passagem por várias zonas do país, registou que a força das águas arrastara a maioria das árvores, excepto algumas palmeiras e coqueiros que se mantiveram resilientes. Deste modo, muitos caracóis de árvores pereceram devido à falta de abrigo.

Os pântanos apesar de serem, geralmente (e erroneamente), associados a territórios desprovidos de vida e sem relevância ambiental, a verdade é que são extremamente importantes a nível ecológico. Os pântanos são áreas planas com muita vegetação herbácea e arbustiva, com reduzido escoamento de águas, daí ser uma zona inundada[2]. Juntando a tudo isto a elevada decomposição de matéria orgânica, resulta um ecossistema diverso e característico destes locais. Voltando à realidade Asiática, as águas do mar chegaram às zonas pantanosas de água doce, tornando-as hipersalinas[3], o que levou à morte de todos os moluscos de água doce. Curiosamente, uma espécie exótica deu-se muito bem neste local, o caracol da espécie Pomacea canaliculata. Por ser resistente a condições extremas compreende-se por que é uma praga. Mas os moluscos não foram os únicos afectados neste local. Outros invertebrados também morreram, assim como alguns vertebrados que não conseguiram escapar. Foram diversas e profundas as alterações que ocorreram neste ecossistema único.

Na província de Ranong, situada na ilha de Kam, a erosão provocada pelo Tsunami dividiu duas populações de Amphidromus atricallosus, observando assim um fenómeno de vicariância. A vicariância é um mecanismo evolutivo que decorre de uma separação geográfica, normalmente através de uma barreira natural que impede que duas populações se encontrem. Essa barreira geográfica natural pode ser uma montanha, um rio, uma floresta muito densa, entre outras. Com o passar do tempo, se as populações não se encontrarem e não se cruzarem deixa de haver fluxo genético, formando-se duas subpopulações que irão adquirir características próprias, tornando-se distintas uma da outra. Com o tempo, este isolamento geográfico pode originar um processo de especiação, isto é, a formação de novas espécies.

Outra consequência das ondas gigantes foi a da dispersão dos agentes poluentes no mar, o que levou ao melhoramento de alguns habitats marinhos e ao reaparecimento em grande número de espécies que já se consideravam raras. Entre os animais que voltaram para repovoar aquele território, podem encontrar-se os caranguejos Emerita emertus, camarões, poliquetas (vermes) e moluscos do género Olivella sp.

Fonte:
Somsak Panha, Special Report: A survey of the impacts of the Southeast Asian Tsunami on some terrestrial invertebrates including molluscs, Unitas Malacologica Newsletter, number 22, June 2005



[1]O epicentro do Terremoto que provocou o Tsunami encontrou-se localizado a NO da Indonésia. As regiões mais afectadas foram obviamente a Indonésia e a Tailândia, devido à sua posição geográfica, mas também regiões como o Sri Lanka, as ilhas Maldivas, a Índia e até a Somália foram fustigadas por este cataclismo.


[2]As águas dos pântanos podem ser de três tipos: água doce, salobra ou salgada.

[3]Estas águas hipersalinas têm uma concentração 38-40ppt, quando a água do mar possui normalmente uma concentração de 25-30ppt.

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