29/09/2010

ENSAIO: Animais fazem fotossíntese? - Parte II

Ao olharem atentamente para uma lesma-do-mar verde, os cientistas, a certa altura, ter-se-ão questionado se elas poderiam realizar fotossíntese. Após alguns estudos, a hipótese foi validada, o que só trouxe ainda mais questões. Hoje sabe-se que estas lesmas-do-mar, que nascem sem cloroplastos, alimentam-se de algas, e que ao longo do sistema digestivo dá-se uma separação dos vários componentes do alimento, sendo que os cloroplastos são incorporados no tecido destes gastrópodes – daí a coloração verde. Ainda mais fantástico é que, deste modo, algumas destas espécies conseguem obter a energia necessária aguentando até 9 meses sem se alimentarem, através do processo fotossintético. Para isso, só precisam de luz, daí a designação “lesmas-do-mar movidas a energia solar” (solar-powered seaslugs). Não se trata de uma simbiose, mas de um roubo da maquinaria celular, daí chamar-se ao processo de cleptoplastia.

Uma equipa de cientistas portugueses encontra-se a estudar a espécie Elysia tímida, de modo a compreender até que ponto este mecanismo é eficiente. A resposta à questão foi, no mínimo, surpreendente: A eficiência da fotossíntese é superior no animal em estudo do que nas próprias algas que servem de alimento – de acordo com o estudo publicado no Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, pelos investigadores Bruno Jesus, Patrícia Ventura e Gonçalo Calado.

Estes moluscos conseguem realizar fotossíntese como as algas, mas, sendo animais, conseguem deslocar-se para locais com maior luminosidade, e quando esta se encontra em excesso podem ir novamente para locais mais escuros, ou, mover os parápodes (prolongamento da pele) para regular a quantidade de luz e diminuir o processo de fotoinibição, factor limitante nas algas. “É como usar o melhor dos dois mundos”, explica o Dr. Jesus.

Respondendo à questão com que iniciei a primeira parte do texto, sim, há animais que podem realizar a fotossíntese, como é o caso de algumas lesmas-do-mar que utilizam os cloroplastos das algas das quais se alimentam, através do processo de cleptoplastia.

Estudo realizado por investigadores do Instituto Português de Malacologia (IPM) (http://www.ipmalac.org/) e Instituto de Oceanografia (http://co.fc.ul.pt/)

Fontes:
Artigo científico: aqui
Notícia no site da BBC - BBC - Earth

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